segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Sentir-não sentir

Cansada do fácil e do difícil.
Até o prazer escorreu pelo ralo da pia.
O espelho não me assusta mais, nem que eu ria.
Mesmo com expressões forçadas, sentimentos enlatados.
É um sentir-não sentir assim meio encravados.
Um olhar buscador de coisas, pessoas sem nome.
Ë um minuto comprido de fome.
Poderia devorar quadros, filmes e livros.
Mas isso basta pra nos sentirmos vivos?
É a falta de palavras pra definir que me toma.
Queima minhas vontades.
Retalha meu desejo.
Aplica em minutinhos na minha veia, é o que bem vejo.
Aquele minutinho comprido de fome, de vontade de saciar.
Depois satisfeita ou não tudo tende a passar.
Porque é um sentir-não sentir estuprador.
Derruba água na dor e sangue no amor.
Arranca os botões da blusa que eu venha vestir.
Rasga a calça, corta o íntimo e o usual.
Mas não fica tudo á mostra, portanto não tem mal.
Ta somente aqui a me desconstruir.

3 comentários:

jh.sil disse...

"É a falta de palavras pra definir que me toma."

Apesar de acreditar, profundamente, no poder monstruoso que a palavra carrega, é bem verdade que certos momentos; certas sensações e percepções são indizíveis; inenarráveis.

E então o paradoxo as arrebata, e o silêncio pronuncia.

Henrique disse...

gostaria de comentar somente esse primeira frase que eu já achei interessante logo de início:

Cansada do fácil e do difícil.

Sara S. disse...

Se o nosso ser entra em descontrucção, que esteja a desconstruir os nossos males, os nossos defeitos... mas nunca nos esqueçamos que há sempre algo que permanecerá e que será sempre uma característica do que ele é (o ser), do que nós somos, antes, durante e até após a mudança. Beijinho