quarta-feira, 27 de abril de 2022

Inexistência

Como dança de balé suspenso, sinto você orbitar em mim.

Na embolada do tempo você sussurra em meus ouvidos: 

- Estou cada vez mais perto. Tão perto.

Sinto seu calor, sua presença.

A energia se dissipa e duvido de tal crença.

Brado sua inexistência.

Que faço eu com tuas sensações?

A presença forte que me atravessa as emoções.

Debato-me entre chegue e parta.

Aquilo que me consome, afaga sem nome, quase me mata.

Puro desejo, instinto que pulsa, treme e logo acalma.

Como o carinho da sua mão na minha aflita alma.

Meu olhar busca desesperado.

O coração sussurra quase envergonhado:

- Te quero tanto entrelaçado.

Sinto sua risada, seu olhar.

A energia queima e a boca chega para silenciar.

Pisco confusa, meu cérebro está a pifar.

Teu gosto a um milésimo.

Brado sua inexistência.





Companheiro papel

 Antes de te colocar nesse papel, pensei mil vezes em como te personificar.

Como expor as minúcias do que vc é, representa e causa em todo o meu manifestar.

Transformar essa grande massa em corpo, figura física sem expectativas e decepções.

Se eu mesma vivo a voar nas minhas delirantes emoções.

Quando penso em transformar-te em alguém, fica mais difícil que transcrever o que sinto.

Loucura pensar que o sentimento é menor que a tua carne.

E que me adianta pensar nas mais pequenas idiossincrasias vale? 

No fim das contas a imensidão de você me invade, rouba e arde.

Impossível te armazenar em espaços.

Nem mesmo a idealização de um ato cortariam nossos laços.

Antes de você tudo era simples e rabiscado em normalidades.

Papel satisfazia os arroubos da idade.

Quilômetros de megabyte vieram surpreender células, músculos e razão insistia em gritar.

Não cabe, não tem espaço, nem idade, se limite em pensar!

Portanto querido papel como te pintar de você?

Dedos trêmulos tentam engrandecer, fechando os porquês.

A imaginação ri descontroladamente e zombeteiramente.

Que audácia dessa menina indolente!

Antes de te colocar no papel tento reunir todas as páginas como estrelas no céu.

Só consigo sentir meu companheiro papel.