terça-feira, 23 de setembro de 2025

Vasculhei

 Vasculhei as gavetas para saber qual melhor te serviria. Mas isso não importa porque somente engavetamos o que de bom o amor deixou. 

Suas feridas ainda ardem. Olho e pergunto como algo sem presença pode sangrar. Talvez tenha exposto sem perceber que seria ferida vorazmente. E em que gavetas cabem as dores? 

As gavetas estão prontas, meu coração também. A vida bate na porta inquisidora, imponente. Talvez tenha adormecido nas lembranças sem perceber que nunca fui priorizada. Não há gavetas para almas teimosas.

Cartões de amor, saudade, desculpas nem ocupam mais as gavetas. Foram nossas, armazenaram vc em toda sua essência, sabor e presença.

Vasculhei meus pensamentos para saber qual espaço ainda te caberia.Mas isso não importa porque eles são livres e o que me acorrentou fatalmente acabou.

Minhas feridas ressentidas choram. Olho e pergunto como algo que só existiu para mim pode doer tanto. Talvez tenha vivido nas lembranças sem saber que era ilusões unilaterais. Não há gavetas para almas apaixonadas.

Músicas, comidas, beijos, nada impresso para engavetar. Foram nossos, carimbados, vc em todo sentimento, sexo e desejo.

Vasculhei meu coração para encontrar razão e conceber. Importa como nos doamos e amamos sem esquecer da própria essência.

Minhas entranhas não engavetam coragem. Não caibo em gavetas, silêncios ou medos. Minha alma quer tudo de verdade, palavras, presença, olhos e principalmente coração.

Não preciso forçar espaços, implorar frestas, delinear pulgências.

Feridas saram, gavetas se abrem mas também se fecham e o tempo caminha de mãos dadas com a cura.


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