Quis dizer tantas coisas, despedir-se nunca é suficiente. Frases feitas no calor, na angústia, as decepções que nos causamos em momentos tolos. As palavras perderam seu posto de fortaleza. Certas coisas não precisam ser ditas, outras expulsas dos pulmões a pleno calor do momento. Porque no despedir-se elas queimam, viram pó no abismo do fim.
Sentimentos vivem afogados, torturados, maltratados como soldados de guerra dessa batalha hostil que fomos nós aos olhos alheios. A despedida estava lá junto até mesmo da chegada, espreitando cada fresta. Diga-me mesmo tardiamente as palavras que expressavam tantas coisas. Elas precisam de ar, mesmo que não adquiram valor. Não mate-as sem chance de sorrir como um bebê feliz.
Quis dizer tantas dores, porque os cortes fundos sangraram para criar coragem nesse despedir-se. Frases feitas no suspiro, na lágrima, as ilusões que mantiveram cordões umbilicais robustos. As palavras vagaram, fugitivas, afrontadas pela covardia, dor ou cansaço. Certas coisas não precisam ser ditas outras sob gritos latentes mesmo que tardiamente. Porque despedir-se não cabem lacunas.
Sentimentos vivem as dúvidas, mutilados, aniquilados como lutadores de um round previsível de fracassos mas que insistem na luta. A despedida ali, oferecendo amparo.
Diga o que nunca foi dito, antes do despedir-se, quando não havia frestas ou lacunas, só sentimentos, misturados como linhas de uma tapeçaria que se desenha em plena beleza de existir. As palavras precisam de destino, de quem as segure pelas mãos firmes e diga-lhes: sejam!
Quis dizer e o despedir-se roubou até as vontades desse dizer cansado. Ofereci a ausência, triste, muda, dolorida, injustiçada, machucada. Palavras fecharam as portas, chaves na gaveta, olhos no tempo.
Digas sem querer.