sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dispor

Dispor da palavra pode ser dom ou maldição.
Eu disponho apenas das minhas agruras.
Aquelas que causam-me comichões,que adoçam-me,que trazem lembranças.
Quase posso dizer que possuem vida própria.
E porque não afirmar.
Afirmar minha lucidez literariamente doida.
Já que sanidade é um copo de água muito raso.
Prefiro as profundidades das palavras.
Com dom ou maldição, com açucar e muito tesão.
Pessoas afetam minha paixão.
Roubam-me a inspiração, esvaziam-me de toda insana e deliciosa escrita.
Leve sim minha atenção rapaz.
Fique com os meus pulsares,beba minha sutileza de charme, capture o brilho do meus olhos.
Mas nunca,jamais, fique com meu escrever.
A força que me mantém borbulhante não pode secar.
A vitamina das minhas raízes!
Eu disponho de uma parte de mim intocada.
Que passa a maior parte desse tempo calada.
Mim que loucamente quer ser eu.
Tomar lugar desse eu tão cheio de vida fajuta.
Que vive de agruras de vida-própria.
Que afirma lucidez insana,que possui cadjuvância do eu.
Morte as afetações da minha escrita!!!
Seja vc passante rapaz.
Seja o mim da minha paz.
Desse pedaço eu não disponho...não te ofereço, não ponho.
Murcharia num desfalecer irremediavelmente fatal.
Perderia a vivacidade e isso seria mortal!
Chorariam meus versos e meus papéis rabiscados.
Emudeceria o meu amor machucado.
Estaria vazia até do meu eu intocado.
E que que silêncio suportaria tal malfadado?
Não posso dispor, não arranque-me importante direito.
Já levou desavisadamente meu peito!
Sossegue tal sede, moço voraz.
Arrancou-me de primeira a minha paz.
Agora busco-me de volta.
Tento fechar de ti todas as portas.
Dispor somente da tua solidão.
Porque até ela oferece-me seu quinhão.