domingo, 7 de dezembro de 2025

Decepção

 


Decepção é uma dose amarga que desce rasgando. 

Não se espera beber fel em dia de sol muito menos chuva. 

A dor acolhe com seus braços apertados de força traidora. 

A respiração rateia consumida pelos espinhos do golpe inesperado. 

Decepção flecha o coração que faz buracos difíceis de sarar. 

Olhamos as feridas que teimam em sangrar misturadas as lágrimas. 

Não sabemos se estancamos ou buscamos ar. 

Decepção dói profundo porque um dia foi vestida de confiança e consideração. Já deu risadas, abraços cúmplices. 

Confiança derrete sob o fel do ataque traiçoeiro. 

E consideração como criança foge assustada com tamanho alvoroçar dos gritos ingratos. 

Aperta-se os botões da realidade a nova vida cheia de cicatrizes. 

Decepção vc já fez os estragos suficientes em quem nunca levantou a mão pra vc. 

Não desejo o mal que vc me causou mas peço que nunca mais venha me ferir. 

Guarde seu fel, suas garras e seus feitos para quem merece. 

Sua visita fechou portas, deixou rastro mas vou costurar minhas dores. Sozinha. 

Dessa bebida amarga meu coração ingênuo não quer mais degustar. 

sábado, 15 de novembro de 2025

Pedaço de você

 Meu pedaço de você me faz companhia

Fizemos pouco, uma lenta agonia.

Quando olho pra esse sedento pedaço seu

Me faz querer colar corpo no corpo profundo breu.

Seu pedaço me fez cair em abismo sentimental 

E as brutas palavras dessa boca linda, golpe fatal.

Específico pedaço de você e seus tentáculos.

Nossos beijos ardentes, que espetáculo!

Tantas partes sem despedida de você

Pedaço restante, bruta flor do querer.

Meu pedaço de você não largou minha mão

Bastou um olhar para alcançar meu coração.

Quando sinto esse sedento pedaço seu

Pergunto porque todo o resto não foi meu.

Seu pedaço me fez perder a fé de tudo como um ateu.

E as vazias palavras dessa boca em derramar, me fez calar.

Específico pedaço que teima em não me deixar

Momentos que o tempo não vai apagar.



sábado, 25 de outubro de 2025

A estrada e o chão.

 Texto3


Tudo em vão. 

Seus espinhos enterrados na minha pele. 

Como vc fez isso?

Palavras no chão. 

As cicatrizes abertas escorrendo dor. 


Nada adianta. 

Calendário avançando sob os olhos. 

Qual sua motivação?

Sentimentos cravados. 

O frisson correndo pelo corpo. 


Tanto faz. 

Seus pedaços presos em mim. 

Como será o fim?

Cortinas de silêncio e vazio. 

Minha porta, sua presença. 


Tudo em vão, nada adianta, tanto faz. 

Estendo a mão para paz. 

Não tem disfarce, tiro a roupa e a pele. 

Sobras, sombras, poeira. 

Temos a vida inteira. 


A estrada e o meu chão. 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Peças do amor

 Camisas se abraçam pelo chão

Peças do desejo

Amor em ebulição

Dedos suaves deslizam nas costas

Seu braço nos meus seios sinto-me exposta

Dentes cravam a carne quente

Suspiro pula passando dentes. 

Bocas captadas

Línguas no tango sinto-me atada. 

Calças empilham -se pelo mesmo chão. 

Amor em erupção. 

Peças do desejo

Pernas inquietas sobem tua cintura

Já somos interessante mistura

Minuto para ao nosso redor

Expectativa do encaixe que faz de nós um só

Desejo se completa no vazio das peças

O auge das carnes em suprema festa

Nessa dança somos meros expectadores

Desejos correm, tremem, disparam e ardem. 

O relógio que espere o amor dança em plena tarde. 

domingo, 19 de outubro de 2025

Crônica da vida

 Escutei em um filme: o mundo é formado por muitos mundos, uns conectados outros não. 

O sentido das coisas é a conexão. Aquilo que toca sua alma, faz vc sentir-se parte desse Universo controverso e único. 

Ninguém vive a sua vida por vc disse Glória Maria e me fez refletir exatamente como tantas coisas deixaram e outras ganharam sua importância. 

Tenho pressa de descartar aquilo que me paralisa, estaciona, seja pelo motivo que for. Não quero gastar vida com aquilo que me tira brilho, poesia e luz. 

Me interessa o leve, o livre, o que arranca meu sorriso e provoca meus sentidos. 

Não faço questão de ser entendida, aprovada, caber em caixas de definições. 

Perder momentos preciosos dessa minha vida única com outros que não fazem qualquer sentido ou fere minha existência não faz parte dos meus planos. Machucar-se durante o trajeto dessa jornada vida faz parte do amadurecimento. Cria-se resistência, casca dura. Mas nunca sem perder a ternura, o olhar empático. 

Certas experiências desnudam os véus ilusórios dos olhos e nos fazem enxergar que o que faz nosso coração bater em disparada, como escola de samba na ala da bateria é o que vale. É o que chamam por aí de felicidade!

Nessa minha vida única e intransferível quero me maravilhar com o passarinho colorido na varanda. O banho de mar que salva todo o meu axé até o mais profundo do meu ser. A dança do topo das árvores que tem um nome japonês que sempre esqueço mas que me faz ver toda a sua perfeição. O livro que sacode minha poesia interna terminando em suspiros. Os sabores dos alimentos que por muito tempo me foram banidos e hoje surpreende meu prazer em agradecimento. 

A vida retira com uma mão colocando a prova com toda sua força e poder, senhora de si. Mas nos presenteia com sabedoria, reflexão, epifanias e a certeza que existe tempo para se gastar com aquilo que realmente faz o seu mundo mais rico, condizente com o que vc é e quer ser. Aquilo que te orgulha em ter na bagagem de ser vivente. 

Não quero todos os mundos mas aquele que tem as conexões mais verdadeiras e sinceras.  

O resto pode passar como vento. 

sábado, 11 de outubro de 2025

Gestação

 Gestar todo o sentido. 

Medos esvaindo-se, lugares tomados por sentidos. 

Respirar cada tom de mim mesma. 

Sentimentos emitidos  

Que gestação!

Cada tempo, meses reveladores. 

Partículas de ti tomando ares. 

Sentir cada dom de mim mesma. 

Sentimentos punidos. 

Que venha nova estação!

Tenho te sentido, gestando. 

Devolva-me, partes tomadas, ocupadas. 

Respirar cada som de mim mesma  

Sentimentos devolvidos  

Reviravolta de emoção  

Gestar profundidade, vontade  

Respirar teus silêncios  

O mar nunca foi tão abrigo, saudade  

Sentimentos envolvidos  

Gestar todo o sentido

Não colar nada partido  

Respirar cada vazio a ser preenchido  

Sentimentos ouvidos  

Renasce em mim  

As estradas, caminhos  

Coração é ninho!






terça-feira, 23 de setembro de 2025

Vasculhei

 Vasculhei as gavetas para saber qual melhor te serviria. Mas isso não importa porque somente engavetamos o que de bom o amor deixou. 

Suas feridas ainda ardem. Olho e pergunto como algo sem presença pode sangrar. Talvez tenha exposto sem perceber que seria ferida vorazmente. E em que gavetas cabem as dores? 

As gavetas estão prontas, meu coração também. A vida bate na porta inquisidora, imponente. Talvez tenha adormecido nas lembranças sem perceber que nunca fui priorizada. Não há gavetas para almas teimosas.

Cartões de amor, saudade, desculpas nem ocupam mais as gavetas. Foram nossas, armazenaram vc em toda sua essência, sabor e presença.

Vasculhei meus pensamentos para saber qual espaço ainda te caberia.Mas isso não importa porque eles são livres e o que me acorrentou fatalmente acabou.

Minhas feridas ressentidas choram. Olho e pergunto como algo que só existiu para mim pode doer tanto. Talvez tenha vivido nas lembranças sem saber que era ilusões unilaterais. Não há gavetas para almas apaixonadas.

Músicas, comidas, beijos, nada impresso para engavetar. Foram nossos, carimbados, vc em todo sentimento, sexo e desejo.

Vasculhei meu coração para encontrar razão e conceber. Importa como nos doamos e amamos sem esquecer da própria essência.

Minhas entranhas não engavetam coragem. Não caibo em gavetas, silêncios ou medos. Minha alma quer tudo de verdade, palavras, presença, olhos e principalmente coração.

Não preciso forçar espaços, implorar frestas, delinear pulgências.

Feridas saram, gavetas se abrem mas também se fecham e o tempo caminha de mãos dadas com a cura.