sábado, 25 de outubro de 2025

A estrada e o chão.

 Texto3


Tudo em vão. 

Seus espinhos enterrados na minha pele. 

Como vc fez isso?

Palavras no chão. 

As cicatrizes abertas escorrendo dor. 


Nada adianta. 

Calendário avançando sob os olhos. 

Qual sua motivação?

Sentimentos cravados. 

O frisson correndo pelo corpo. 


Tanto faz. 

Seus pedaços presos em mim. 

Como será o fim?

Cortinas de silêncio e vazio. 

Minha porta, sua presença. 


Tudo em vão, nada adianta, tanto faz. 

Estendo a mão para paz. 

Não tem disfarce, tiro a roupa e a pele. 

Sobras, sombras, poeira. 

Temos a vida inteira. 


A estrada e o meu chão. 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Peças do amor

 Camisas se abraçam pelo chão

Peças do desejo

Amor em ebulição

Dedos suaves deslizam nas costas

Seu braço nos meus seios sinto-me exposta

Dentes cravam a carne quente

Suspiro pula passando dentes. 

Bocas captadas

Línguas no tango sinto-me atada. 

Calças empilham -se pelo mesmo chão. 

Amor em erupção. 

Peças do desejo

Pernas inquietas sobem tua cintura

Já somos interessante mistura

Minuto para ao nosso redor

Expectativa do encaixe que faz de nós um só

Desejo se completa no vazio das peças

O auge das carnes em suprema festa

Nessa dança somos meros expectadores

Desejos correm, tremem, disparam e ardem. 

O relógio que espere o amor dança em plena tarde. 

domingo, 19 de outubro de 2025

Crônica da vida

 Escutei em um filme: o mundo é formado por muitos mundos, uns conectados outros não. 

O sentido das coisas é a conexão. Aquilo que toca sua alma, faz vc sentir-se parte desse Universo controverso e único. 

Ninguém vive a sua vida por vc disse Glória Maria e me fez refletir exatamente como tantas coisas deixaram e outras ganharam sua importância. 

Tenho pressa de descartar aquilo que me paralisa, estaciona, seja pelo motivo que for. Não quero gastar vida com aquilo que me tira brilho, poesia e luz. 

Me interessa o leve, o livre, o que arranca meu sorriso e provoca meus sentidos. 

Não faço questão de ser entendida, aprovada, caber em caixas de definições. 

Perder momentos preciosos dessa minha vida única com outros que não fazem qualquer sentido ou fere minha existência não faz parte dos meus planos. Machucar-se durante o trajeto dessa jornada vida faz parte do amadurecimento. Cria-se resistência, casca dura. Mas nunca sem perder a ternura, o olhar empático. 

Certas experiências desnudam os véus ilusórios dos olhos e nos fazem enxergar que o que faz nosso coração bater em disparada, como escola de samba na ala da bateria é o que vale. É o que chamam por aí de felicidade!

Nessa minha vida única e intransferível quero me maravilhar com o passarinho colorido na varanda. O banho de mar que salva todo o meu axé até o mais profundo do meu ser. A dança do topo das árvores que tem um nome japonês que sempre esqueço mas que me faz ver toda a sua perfeição. O livro que sacode minha poesia interna terminando em suspiros. Os sabores dos alimentos que por muito tempo me foram banidos e hoje surpreende meu prazer em agradecimento. 

A vida retira com uma mão colocando a prova com toda sua força e poder, senhora de si. Mas nos presenteia com sabedoria, reflexão, epifanias e a certeza que existe tempo para se gastar com aquilo que realmente faz o seu mundo mais rico, condizente com o que vc é e quer ser. Aquilo que te orgulha em ter na bagagem de ser vivente. 

Não quero todos os mundos mas aquele que tem as conexões mais verdadeiras e sinceras.  

O resto pode passar como vento. 

sábado, 11 de outubro de 2025

Gestação

 Gestar todo o sentido. 

Medos esvaindo-se, lugares tomados por sentidos. 

Respirar cada tom de mim mesma. 

Sentimentos emitidos  

Que gestação!

Cada tempo, meses reveladores. 

Partículas de ti tomando ares. 

Sentir cada dom de mim mesma. 

Sentimentos punidos. 

Que venha nova estação!

Tenho te sentido, gestando. 

Devolva-me, partes tomadas, ocupadas. 

Respirar cada som de mim mesma  

Sentimentos devolvidos  

Reviravolta de emoção  

Gestar profundidade, vontade  

Respirar teus silêncios  

O mar nunca foi tão abrigo, saudade  

Sentimentos envolvidos  

Gestar todo o sentido

Não colar nada partido  

Respirar cada vazio a ser preenchido  

Sentimentos ouvidos  

Renasce em mim  

As estradas, caminhos  

Coração é ninho!






terça-feira, 23 de setembro de 2025

Vasculhei

 Vasculhei as gavetas para saber qual melhor te serviria. Mas isso não importa porque somente engavetamos o que de bom o amor deixou. 

Suas feridas ainda ardem. Olho e pergunto como algo sem presença pode sangrar. Talvez tenha exposto sem perceber que seria ferida vorazmente. E em que gavetas cabem as dores? 

As gavetas estão prontas, meu coração também. A vida bate na porta inquisidora, imponente. Talvez tenha adormecido nas lembranças sem perceber que nunca fui priorizada. Não há gavetas para almas teimosas.

Cartões de amor, saudade, desculpas nem ocupam mais as gavetas. Foram nossas, armazenaram vc em toda sua essência, sabor e presença.

Vasculhei meus pensamentos para saber qual espaço ainda te caberia.Mas isso não importa porque eles são livres e o que me acorrentou fatalmente acabou.

Minhas feridas ressentidas choram. Olho e pergunto como algo que só existiu para mim pode doer tanto. Talvez tenha vivido nas lembranças sem saber que era ilusões unilaterais. Não há gavetas para almas apaixonadas.

Músicas, comidas, beijos, nada impresso para engavetar. Foram nossos, carimbados, vc em todo sentimento, sexo e desejo.

Vasculhei meu coração para encontrar razão e conceber. Importa como nos doamos e amamos sem esquecer da própria essência.

Minhas entranhas não engavetam coragem. Não caibo em gavetas, silêncios ou medos. Minha alma quer tudo de verdade, palavras, presença, olhos e principalmente coração.

Não preciso forçar espaços, implorar frestas, delinear pulgências.

Feridas saram, gavetas se abrem mas também se fecham e o tempo caminha de mãos dadas com a cura.


quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Digas sem querer

 Quis dizer tantas coisas, despedir-se nunca é suficiente. Frases feitas no calor, na angústia, as decepções que nos causamos em momentos tolos. As palavras perderam seu posto de fortaleza. Certas coisas não precisam ser ditas, outras expulsas dos pulmões a pleno calor do momento. Porque no despedir-se elas queimam, viram pó no abismo do fim.

Sentimentos vivem afogados, torturados, maltratados como soldados de guerra dessa batalha hostil que fomos nós aos olhos alheios. A despedida estava lá junto até mesmo da chegada, espreitando cada fresta. Diga-me mesmo tardiamente as palavras que expressavam tantas coisas. Elas precisam de ar, mesmo que não adquiram valor. Não mate-as sem chance de sorrir como um bebê feliz.

Quis dizer tantas dores, porque os cortes fundos sangraram para criar coragem nesse despedir-se. Frases feitas no suspiro, na lágrima, as ilusões que mantiveram cordões umbilicais robustos. As palavras vagaram, fugitivas, afrontadas pela covardia, dor ou cansaço. Certas coisas não precisam ser ditas outras sob gritos latentes mesmo que tardiamente. Porque despedir-se não cabem lacunas.

Sentimentos vivem as dúvidas, mutilados, aniquilados como lutadores de um round previsível de fracassos mas que insistem na luta. A despedida ali, oferecendo amparo.

Diga o que nunca foi dito, antes do despedir-se, quando não havia frestas ou lacunas, só sentimentos, misturados como linhas de uma tapeçaria que se desenha em plena beleza de existir. As palavras precisam de destino, de quem as segure pelas mãos firmes e diga-lhes: sejam!

Quis dizer e o despedir-se roubou até as vontades desse dizer cansado. Ofereci a ausência, triste, muda, dolorida, injustiçada, machucada. Palavras fecharam as portas, chaves na gaveta, olhos no tempo.

Digas sem querer.

Relógio

 Cada minuto que você caminha o relógio se move.

Parei para olhar, ansiosa e cheia de esperanças.

O tempo sara os descompassos?

Dei corda no relógio.

Ele parou.

Para (sempre).

Cada minuto que você fraciona no pensamento o relógio se move.

Parei de olhar, as esperanças caíram dos dedos.

O tempo apaga seus passos?

Dei corda no relógio.

Ele não voltou a bater.

Será para sempre?

Cada minuto que o dia rouba o relógio se move.

Parei de olhos fechados, sentindo, dedos no vazio.

O tempo descortina o caminho.

Olhei o relógio, pensativo, parado.

Tic tac.

Cada minuto.

Relógio.

O tempo não se dá corda.

Não para.