sábado, 11 de outubro de 2025

Gestação

 Gestar todo o sentido. 

Medos esvaindo-se, lugares tomados por sentidos. 

Respirar cada tom de mim mesma. 

Sentimentos emitidos  

Que gestação!

Cada tempo, meses reveladores. 

Partículas de ti tomando ares. 

Sentir cada dom de mim mesma. 

Sentimentos punidos. 

Que venha nova estação!

Tenho te sentido, gestando. 

Devolva-me, partes tomadas, ocupadas. 

Respirar cada som de mim mesma  

Sentimentos devolvidos  

Reviravolta de emoção  

Gestar profundidade, vontade  

Respirar teus silêncios  

O mar nunca foi tão abrigo, saudade  

Sentimentos envolvidos  

Gestar todo o sentido

Não colar nada partido  

Respirar cada vazio a ser preenchido  

Sentimentos ouvidos  

Renasce em mim  

As estradas, caminhos  

Coração é ninho!






terça-feira, 23 de setembro de 2025

Vasculhei

 Vasculhei as gavetas para saber qual melhor te serviria. Mas isso não importa porque somente engavetamos o que de bom o amor deixou. 

Suas feridas ainda ardem. Olho e pergunto como algo sem presença pode sangrar. Talvez tenha exposto sem perceber que seria ferida vorazmente. E em que gavetas cabem as dores? 

As gavetas estão prontas, meu coração também. A vida bate na porta inquisidora, imponente. Talvez tenha adormecido nas lembranças sem perceber que nunca fui priorizada. Não há gavetas para almas teimosas.

Cartões de amor, saudade, desculpas nem ocupam mais as gavetas. Foram nossas, armazenaram vc em toda sua essência, sabor e presença.

Vasculhei meus pensamentos para saber qual espaço ainda te caberia.Mas isso não importa porque eles são livres e o que me acorrentou fatalmente acabou.

Minhas feridas ressentidas choram. Olho e pergunto como algo que só existiu para mim pode doer tanto. Talvez tenha vivido nas lembranças sem saber que era ilusões unilaterais. Não há gavetas para almas apaixonadas.

Músicas, comidas, beijos, nada impresso para engavetar. Foram nossos, carimbados, vc em todo sentimento, sexo e desejo.

Vasculhei meu coração para encontrar razão e conceber. Importa como nos doamos e amamos sem esquecer da própria essência.

Minhas entranhas não engavetam coragem. Não caibo em gavetas, silêncios ou medos. Minha alma quer tudo de verdade, palavras, presença, olhos e principalmente coração.

Não preciso forçar espaços, implorar frestas, delinear pulgências.

Feridas saram, gavetas se abrem mas também se fecham e o tempo caminha de mãos dadas com a cura.


quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Digas sem querer

 Quis dizer tantas coisas, despedir-se nunca é suficiente. Frases feitas no calor, na angústia, as decepções que nos causamos em momentos tolos. As palavras perderam seu posto de fortaleza. Certas coisas não precisam ser ditas, outras expulsas dos pulmões a pleno calor do momento. Porque no despedir-se elas queimam, viram pó no abismo do fim.

Sentimentos vivem afogados, torturados, maltratados como soldados de guerra dessa batalha hostil que fomos nós aos olhos alheios. A despedida estava lá junto até mesmo da chegada, espreitando cada fresta. Diga-me mesmo tardiamente as palavras que expressavam tantas coisas. Elas precisam de ar, mesmo que não adquiram valor. Não mate-as sem chance de sorrir como um bebê feliz.

Quis dizer tantas dores, porque os cortes fundos sangraram para criar coragem nesse despedir-se. Frases feitas no suspiro, na lágrima, as ilusões que mantiveram cordões umbilicais robustos. As palavras vagaram, fugitivas, afrontadas pela covardia, dor ou cansaço. Certas coisas não precisam ser ditas outras sob gritos latentes mesmo que tardiamente. Porque despedir-se não cabem lacunas.

Sentimentos vivem as dúvidas, mutilados, aniquilados como lutadores de um round previsível de fracassos mas que insistem na luta. A despedida ali, oferecendo amparo.

Diga o que nunca foi dito, antes do despedir-se, quando não havia frestas ou lacunas, só sentimentos, misturados como linhas de uma tapeçaria que se desenha em plena beleza de existir. As palavras precisam de destino, de quem as segure pelas mãos firmes e diga-lhes: sejam!

Quis dizer e o despedir-se roubou até as vontades desse dizer cansado. Ofereci a ausência, triste, muda, dolorida, injustiçada, machucada. Palavras fecharam as portas, chaves na gaveta, olhos no tempo.

Digas sem querer.

Relógio

 Cada minuto que você caminha o relógio se move.

Parei para olhar, ansiosa e cheia de esperanças.

O tempo sara os descompassos?

Dei corda no relógio.

Ele parou.

Para (sempre).

Cada minuto que você fraciona no pensamento o relógio se move.

Parei de olhar, as esperanças caíram dos dedos.

O tempo apaga seus passos?

Dei corda no relógio.

Ele não voltou a bater.

Será para sempre?

Cada minuto que o dia rouba o relógio se move.

Parei de olhos fechados, sentindo, dedos no vazio.

O tempo descortina o caminho.

Olhei o relógio, pensativo, parado.

Tic tac.

Cada minuto.

Relógio.

O tempo não se dá corda.

Não para.


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Inspiração



Sinto falta de você, embora nunca tenha me abandonado. 

Ficou quietinho ali em alguma gaveta, fresta, recôncavo. E eu te deixei ali adormecendo, amadurecendo ou se escondendo. 

Você não precisava de mim. 

Senti vontade de te procurar, dizer o quanto você é parte inerente dessa nova eu e que eu nunca vou deixar você partir para sempre. 

Mas não fiz. Julguei que em algum lugar do seu sono você saberia.

(E não sabe?)

Sentia falta do seu cheiro a minha volta, dominando meus pêlos, infiltrando dopamina, meus olhos se fechando para segurar. 

Queria ser surpreendia nos meus dedos e lábios, me arrancando um sorriso.

Você sempre me causou e arrancou as melhores  emoções vestidas e nuas. 

Você não vinha mas estava ali e aqui, dentro e fora, quieto , silencioso, respeitoso e profundamente meu. 

É um sentir saudades dos momentos que formamos uma dupla memorável né?

(Porque você sabe)

Senti vontade de descansar no seu abraço porto, que seguro de si não força para ser, apenas é. 

Até quando faltava seus braços, sobrava-lhe peito, ombro, respiração. 

Queria compartilhar o correr do relógio, do sol e da lua com seu olhar. Como era bom gastar a vida vendo o dia chegar, pensando que nós estivemos grudados, unidos, palavra por palavra, sem mundo, sem paredes, sem estrada. 

Senti saudade dessa consequência juvenil dos corações corajosos. 

Mas você sabe. 

(Não sabe?)

Você descansou longe, eremita, guardião de nós dois e eu me acostumei a deixar você com meu pedaço. 

Agora digo que sinto falta de você como nunca! 

Embora você nunca tenha me abandonado, mas me levou no seu descanso e eu nunca mais fui inteira sem saudade. 

Não posso pedir a volta do que jamais foi. Mas posso pedir para ser o que você é: totalmente meu. 

A gaveta é sua, o descanso nosso. 

Volta a inundar meu coração, papéis, decibéis e pixels, adoro me enrolar nos seus pedaços.

Aposenta essa saudade que eu quero tua presença. 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Despedida

 Sentei- me para escrever - te uma carta.

Tuas malas estão feitas.

A cada linha de pensamento, uma história da nossa trajetória se desfaz e refaz.

Quantas palavras, passos e desejos perdidos nessas ruas estreitas.

Relembro suas promessas de tempos atrás.

Soltaram- se as linhas costuradas desse bordado do nosso caso.

Meus dedos firmes que vc largou ao descaso.

A covardia vestida e pintada de amor.

As punhaladas vieram marcando muita dor.

Te despejar já era a intenção.

Ninguém suporta tanta ingratidão.

Fiz- me de forte perante teu olhar.

Sorri sem vontade, conversei sem maldade, mas estava a desmoronar.

Quando fechar o envelope, não espero despedidas.

Tu não me destes nem a sinceridade tão pedida.

Depois da carta, sentimento jogado fora, aprenda a lição.

Hoje é o meu, amanhã, quem partirá será o teu coração.


sábado, 19 de agosto de 2023

Afogamento

 Saudade de sentir.

Me sinto meio morta ás vezes.

Como se aquela parte cheia de sentimento

Não tivesse mais pertencimento.

Não consigo mentir.

Me sinto meio dormente ás vezes.

Como se aquela parte pulsante cheia de células

Não tivesse linhas paralelas.

Sou toda afogamento.