segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Pensar em você

Pensar em você com tanto presente corrido,
Faz-me ver que talvez eu já tenha morrido.
Cada passo pisado,
Lembrança certa de um passado.
Amado, valorizado, estilhaçado.
Pensar em você com tanto desejo sentido,
Faz-me ver que talvez eu já tenha me punido.
Cada dia que escurece,
Todo amor de construção endurece.
Empedra e cimenta.
Pensar em você com tanta dor latente.
Faz-me ver que talvez eu já esteja doente.
Cada lágrima enraizando.
Vestígio aparente de ferida torturando.
Pulgente e aparente.
Pensar em você.
Esquecer.
Amortecer.
Não tecer-te.
De tudo, destituir.
Você.
Sem pensar.
Sequer juntar vernáculo amar.
Não pronunciar.
De você não pulsar.
Nem linha, nem pensamento.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Carta do dia

"Como te chamo? Querida?
Não quero parecer falsa, o tempo pode respingar mágoas.
Prefiro ir te nomeando aos poucos, como quem pinta devagarinho as cores em um quadro.
Hoje tive vontade de lhe ver, observar seu grandes cílios e aquele apertado sorriso que seus olhos cor de madeira esboçavam quando algo lhe tocava a alma. A saudade apertou tanto os nós do meu velho e cansado peito que julguei um enfarte emocional. Vc sabe que os tenho em grandes fases de saudade. Tu me conheces, pequena.
Suspiro porque pausar ao lembrar de ti é quase viajar no tempo, forço-me a não retirar os pensamentos dessas raízes terrenas. É um grande esforço para mim, e ando cansada como lhe disse. 
Tanto cansaço minha pequena lembrança doce. Um fadigar amedrontador, de doer os ossos emocionais, de escorrer vida pelos olhos sem sequer sentir. 
Nem ao menos sei como perdi meus fôlegos desenhado por asas. Não cabe perguntar a ninguém, a vida empurra os pés e costas de todos a ponto de deixar escapar-lhes essas palavrinhas.
Acordei tão normal, tão diária e sem pulsos que fui assaltada por você em um trecho de poesia lido. Vejo como é a vida, toma-lhe assim sem aviso, sem preparo e devolve-lhe essa saudade louca e infante como se fosse servir-lhe café da tarde.
Queria dizer-lhe que sempre que penso em tuas cartas alívio toma-me, porque sei que ainda sinto vida nos dedos. Estes mesmos dedos que ás vezes parecem mortos ou endurecidos, mas sem nenhum vestígio de mim ou de ti. Acordo ás vezes com eles tensionados, em posição de luta, como se guerra travasse em sono, como se minha'lma nunca quisera desistir. 
Olhos abertos, dedos afrouxam-se e incredulidade me toma. O mesmo sentimento que vi em vc ao deixar-me.
Desculpe tocar-lhe a ferida, foi uma carícia, juro. Precisava expressar o que se passa com meus amargos dedos. Acho que perdi a doçura, minha pequena pena. Sinto que perdi sim, as víceras dessa parte de mim tão suave quanto vc ao me sorrir. E apenas me resta deixar o acordar diário levar mais uma vez essa saudade. Que meu chamado letrista não lhe doa como minhas partes arrancadas, apenas se passem como vento no cabelo. 

Sem queridas, porque lembram-me as pequenas trocas sem importância da boca, somente o minha, porque este sim nomeio na mentalidade da posse, a qualquer hora e sem tempo ou reclames."